Tudo começou há mais de um ano.
Estávamos em fevereiro de 2014 e enfrentava o sexto mês de desemprego. Desempregada à meio ano, o ano letivo praticamente a meio e as perspetivas de colocação diminuíam de dia para dia. Os currículos enviados para ofertas de emprego, fora da área, eram mais que muitos, no entanto, nem uma entrevista. O desespero estava a dar sinais muito negativos. Foi quando uma pessoa próxima, o PM, convidou-me para começar a dar umas corridinhas ao fim do dia. Aceitei. Já não fazia exercício físico há algum tempo, para além do que, assim obrigava-me também a sair de casa. Começámos a treinar duas a três vezes por semana, curtas distâncias, intercalando corrida com caminhada.
Na altura tivemos conhecimento de uma prova que se realiza na nossa cidade, no mês de abril, a "Scalabis Night Race". Tentámos inscrição para os 10km, mas estavam esgotadas. Apesar disso, não desistimos e avançámos com a inscrição para a caminhada de 5km, mas nada nos impedia de fazer os 5km a correr. Inicialmente era esse o objetivo, mas em cima do sinal da partida resolvemos "pular a cerca" (e que ninguém nos oiça!) e fazer o percurso dos 10km, mesmo sem chip, mesmo sem tempo cronometrado e mesmo sem a inscrição oficial. Foram os meus primeiros 10km. Não sabia se conseguiria, não sabia o que era fazer 10km a correr, mas parti com muita vontade de chegar ao fim. A verdade é que consegui e a sensação no final foi indescritível. Se foi pera doce?! Claro que não! Custou-me bastante, a partir do sexto/sétimo quilómetro cheguei a pensar que talvez fosse melhor fazer o resto do percurso a caminhar, mas a mesma pessoa que me incentivou a começar a correr, não me deixou fazer o resto do percurso a andar. Nos últimos quilómetros deu-me toda a força e incentivo para cortar a meta dos meus primeiros 10km a correr: "Não pares, não desistas, respira, tu aguentas, tu consegues, falta pouco, estamos mesmo a chegar…". Foram estas as palavras mais proferidas pelo PM, o "meu mentor", nos últimos quilómetros. E consegui! No entanto, as dores nas pernas no final eram menores do que a sensação de superação. A partir desse dia acreditei que podia, que conseguia e queria correr muito mais. Correr passou a ser a minha terapia. Posso afirmar que a corrida salvou-me de uma depressão, para a qual a situação de desemprego estava a empurrar-me. Descobri prazer na corrida, obrigava-me a sair de casa, abstraia-me dos problemas e descobri uma nova área de interesse para pesquisar, ler, etc. Claro que não resolvi o problema do desemprego com a corrida, mas encontrei uma forma natural de não cair num buraco sem fundo: a depressão.
Depois da "Scalabis Night Race", vieram mais treinos e mais provas e o tempo das provas tem sido sempre superado. Entretanto, já lá vai um ano, nunca fiz uma prova acima dos 10km, mas talvez ainda este ano consiga superar essa distância. A ver vamos…
(Ao PM, que não sei se algum dia lerá este post, obrigada pela motivação para correr aqueles que seriam os primeiros 10km da minha vida.)
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créditos da imagem @IL